Barcelona soube aproveitar, no início da Era dos Descobrimentos, o potencial marítimo para ali fazer florescer suas instalações de construção naval, onde se localizavam os estaleiros de Drassanes, fundados em meados do século XII e onde foram construídos os galeões que fizeram de Barcelona uma potência marítima.
Todavia, ao longo de boa parte de sua história recente – anterior aos Jogos Olímpicos, de 1992 – preferiu virar-se em direção ao continente, como que tentando escapar da atração inevitável do mar. Felizmente, no início dos anos 90, suas praias foram revitalizadas e o porto , hoje um dos principais centros logísticos do Mediterrâneo, aumentou sua capacidade extraordinariamente. Hoje das colinas de Montjuic, o olhar é muito mais seduzido pelo cais de navios de passageiros, para as construções à beira mar e mesmo para o porto comercial do que é atraído para as obras arquitetônicas terra à dentro. Caso típico de vocação restabelecida.
A história do Brasil está indissociavelmente ligada a vários fatos na Baía de Guanabara, símbolo maior da cidade do Rio de Janeiro. Aqui tivemos, por exemplo, a chegada de Dom João VI, em 1808, para na visão de muitos estudiosos, de fato, iniciar a história do Brasil, como país. Mesmo nos seus melhores momentos, o porto do Rio de Janeiro, nunca foi uma referência positiva para a cidade. As cidades da Baixada Fluminense situadas nas margens da baía, nunca puderam “enxergar” na baía - que se debruçava sobre suas portas, nenhuma das vantagens de tê-la como recurso, exceto talvez para o despejo de esgoto. Integração com os rios da região, nem pensar. As cidades nunca resolveram utilizar a baía como fonte de soluções conjuntas. Em um ato mais concreto, isolou-se a cidade do Rio de Janeiro da baía, primeiramente com os armazéns do cais do porto e mais recentemente, com o elevado da Perimetral. A cidade volta-se para o oceano, na Zona Sul, mas cresce rastejando em direção contrária à da baía.
Do ponto de vista logístico falta associação entre o potencial de transferência de cargas por balsas, a partir, por exemplo, de Duque de Caxias, São Gonçalo para o porto. Pela perspectiva urbanística, falta permitir que a cidade, desde o seu Centro até o Caju, tenha a Baía de Guanabara integrada à sua paisagem.
E então porque falar de Macaé, quando se fazem comparações com Barcelona e o Rio de Janeiro? Porque a cidade, a menos de 180 km do Rio de Janeiro, é – e ainda será por um bom tempo – o maior pólo de apoio à produção de petróleo offshore no Brasil. Sua história começa como uma cidade pesqueira, que pela visão estratégica de José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho - bispo de Olinda, nascido em Campos dos Goytacazes - trazida a público na obra "Ensaio Econômico sobre o Comércio de Portugal e suas Colônias", em 1794, e encampada pelo Visconde de Araruama, em 1836, constrói a maior obra de engenharia do século XIX no Brasil, o canal Macaé-Campos.
Empreitada singular, cavada por escravos, entre 1844 e 1861, aproveitando as lagoas da região, para permitir o escoamento da produção de açúcar do Norte Fluminense, através do Porto de Imbetiba, no coração de Macaé. O exemplo perfeito de região que sabia aproveitar sua geografia – unindo, baía, rios e lagos – para criar sua identidade. Com a criação da “Estrada de Ferro Macaé e Campos”, em 1874 o canal, bem como o porto, perdeu sua função principal de escoar a produção de açúcar da região, incicando a partir daquela época seu lento e gradual abandono.
Com o advento do petróleo na região, no início dos anos 70, já no século, XX, o porto passa a ser utilizado para apoio às operações na Bacia de Campos A partir daquele momento a história de virar as costas para a geografia, no caso o rio Macaé, se repete. Nem sombra de se integrar o rio Macaé e seus canais à solução de transporte para as plataformas. Mais uma cidade olhando para o oceano e crescendo de forma a se afastar de seu rio, de sua baía, cheios de oportunidades para seu progresso.O exemplo de Barcelona, que começa sua história olhando para sua baía; a perde de vista e novamente a encontra e se reconciliam, faz com que tenhamos esperança de ainda vermos a baía de Guanabara e o rio Macaé como marcos orgulhosos e integradores de suas regiões.
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