No final de maio, o governo alemão anunciou que os 7 reatores que haviam sido fechados logo após a divulgação do acidente na usina de Fukushima, no Japão, nunca mais serão religados. Na verdade a notícia ainda é mais dramática: Todo o parque nuclear alemão será desativado até 2022. O plano alemão é ter, a partir de 2022, toda a energia - que era gerada pelas usinas nucleares - sendo criada a partir de fontes renováveis. Considerando que hoje, cerca de um terço da energia elétrica consumida na Alemanha é gerado em usinas nucleares e que a eletricidade gerada nestas usinas custa cerca de 1/3 do preço daquela gerada em usinas eólicas e cerca da vinte vezes menos do que a eletricidade gerada a partir da energia solar, temos uma equação que beira a impossibilidade: Somente uma década para substituir 1/3 de toda a matriz de geração de energia elétrica em um país como a Alemanha.
Este quadro cria a necessidade de pensar na relação da Alemanha com alguns países vizinhos que seriam parceiros chaves neste processo.
Primeiramente, a França, que no pós-guerra tem empreendido esforços para manter a Alemanha sob pressão, de forma a criar um cenário no qual a França seja tão importante para a Alemanha - do ponto de vista de investimentos e suprimento de itens críticos – que impeça qualquer possibilidade alemã de enxergá-la como inimiga. A França tem uma inegável vantagem - neste momento de plebiscitos (Itália e Japão) para verificar o interesse das populações em manter a operação de usinas nucleares – pois sua população não demonstra – diferente da alemã – resistência ao uso de energia nuclear. Neste contexto, a França aproveitará para instalar tantas usinas quanto possível, para garantir sua capacidade de protagonista no fornecimento de energia elétrica para Alemanha.
O segundo país que surge como player importante a partir da decisão alemã é a Polônia. O país fica geoestrategicamente espremido entre a Alemanha e a Rússia e não pode competir em nenhum aspecto com ambos. Embora o carvão seja hoje em dia um combustível politicamente incorreto, que vem sendo banido da Europa nos últimos 20 anos, a Polônia o usa em escala maciça, sendo responsável por cerca de 90% da eletricidade do país. Como uma usina a carvão é muito mais barata e rápida de construir do que uma nuclear, ironicamente é a Polônia com este combustível fora de moda - o carvão é que tem as maiores condições de viabilizar os planos ecologicamente corretos da Alemanha.

O próximo país ligado a esta questão é a Rússia, que há décadas tenta estabelecer relações estratégicas de longo prazo com a Alemanha. Uma união entre as duas potências teria a capacidade de desestabilizar todo o jogo de forças na Europa. Do ponto de vista econômico, os russos vêem a Alemanha como seu mais importante parceiro comercial e sua maior fonte de investimentos externos. A capacidade da Rússia de influenciar a matriz energética alemã se chama “Nord Stream pipeline” – um gasoduto ligando diretamente a Rússia à Alemanha (by-passando boa parte dos vizinhos) – que deve já entrar em operação este ano, sendo capaz de transportar 55 bilhões de m3 por ano – quantidade de gás suficiente para substituir metade da energia gerada pelas usinas nucleares alemãs – bastando à Alemanha instalar as usinas termo-elétricas a gás, pois o combustível já estará lá.
Ou seja, a decisão alemã embora praticamente inexeqüível no prazo proposto, mudará o equilíbrio de forças entre os países europeus.
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