Os oceanos têm representado ao longo da história da humanidade o caminho e a fonte para as nações materializarem suas vocações. Os primeiros registros da jornada marítima dos homens remontam há mais de 800.000 anos. Através dos oceanos, Portugal conduziu, ao longo dos séculos XV e XVI, a maior expansão geográfica da história da humanidade, com viagens muito mais ousadas que as atuais expedições espaciais. As viagens da Era dos Descobrimentos, como costuma ser descrito aquele período, estão entre os acontecimentos mais importantes da história do mundo. A viagem portuguesa uniu duas partes ricas e dinâmicas do mundo que, anteriormente eram inacessíveis por navio. Um acontecimento comparável a este nunca ocorrerá novamente, a não ser que uma forma de vida avançada seja descoberta em outro planeta.
Pela necessidade de sobrevivência e impulsionados pela visão estratégica do infante Dom Henrique fizeram-se ao mar, no que também ficou conhecido como seu “transbordamento” como nação. Esse projeto, que durou cerca de 130 anos, iniciou-se com a conquista de Ceuta, em 1415, passando pela chegada de Cabral ao Brasil em 1500 e estendendo-se até 1543, quando os portugueses atingiram o Japão.
Nestes dias em que o Brasil, com a descoberta do reservatório do Pré-Sal, no campo de Tupi parece iniciar uma nova era, vale a pena uma reflexão a respeito das similaridades entre os projetos de duas nações que encontraram no oceano o caminho para fazer frente aos seus principais desafios com vistas à sobrevivência e à prosperidade: Portugal, com o processo de expansão marítima, e o Brasil, na sua busca pelo petróleo no oceano.
O mundo que testemunhava a chegada do homem à Lua, no final da década de sessenta, experimentava também o primeiro choque de petróleo, em 1973. Na medida em que os países produtores diminuíam a produção e os preços do barril de petróleo aumentavam - em apenas três meses, de US$ 2,90 para US$ 11,65 - evidenciava-se a importância geopolítica do principal combustível da humanidade. Nessa época, a Petrobrás era uma empresa que contava com vinte anos de existência, tendo recém iniciado suas operações marítimas, mais especificamente no campo de Guaricema, no litoral de Sergipe. Delineava-se naquele momento que, para o Brasil a auto-suficiência em petróleo significava buscá-lo no oceano.
Ainda na década de 70, com a descoberta do campo de Garoupa, na Bacia de Campos, e com o subseqüente início da produção daquele campo, em 1977, iniciava-se um consistente avanço do Brasil rumo ao Oceano Atlântico na busca por petróleo. No final dos anos noventa a exploração petrolífera, no Brasil, já chegava à incrível marca dos poços a mais de 1850 metros de profundidade.
Não há claras semelhanças entre os desafios vencidos pelos portugueses no século XV e as conquistas do Brasil, na sua busca por auto-suficiência em petróleo ? As principais similaridades entre estes dois projetos estratégicos encontram-se no seguinte tripé comum: busca pelo conhecimento e capacitação ; foco contínuo em uma expansão que se sustentasse financeiramente ; o desenvolvimento de soluções tecnológicas incrementais.
Com efeito, a busca pelo conhecimento levou Portugal a constituir aquela que ficou conhecida como a Escola de Sagres que, muito mais que uma escola no sentido literal da palavra, significava a concentração de recursos e talentos para planejar as viagens e aprender o máximo possível com cada uma das expedições, através da acumulação ordenada de informações. A Petrobrás, por sua vez, materializou sua busca pela capacitação com a criação de seu centro de pesquisas, em 1966, e em sua preocupação pioneira na formação de seus técnicos e engenheiros, repetindo a experiência bem sucedida de Portugal na busca pela capacitação de seu pessoal. O modelo de desenvolvimento da produção em “sistemas de produção antecipada” e mais modernamente, com o uso dos FPSOs, garantiu à Petrobrás a viabilidade econômica de sua expansão da produção no mar. À medida que as descobertas eram confirmadas, iniciava-se quase que imediatamente a produção, evitando que a alocação dos preciosos e escassos recursos financeiros ficasse aguardando muito tempo por retorno. De forma similar, Portugal, com a implantação das colônias ao longo do trajeto de sua expansão, praticava o que parecia ser o lema do infante Dom Henrique – mentor principal daquele projeto - explorar sim, "deficitar nunca!”.
Os principais desafios “tecnológicos” enfrentados por Portugal consistiam no aprimoramento dos meios navais, com o desenvolvimento das caravelas e, principalmente, o “descobrimento” do caminho de volta para casa. Ambos desenvolvidos progressivamente ao longo da expansão. O Brasil, em sua busca por auto-suficiência em petróleo, baseou suas soluções tecnológicas em um modelo incremental, ao invés de apostar em inovações radicais, adotando o conceito de melhoramento e aperfeiçoamento dos sistemas de produção nos quais já possuía experiência. Hoje, o Brasil é reconhecido mundialmente por sua competência tecnológica na exploração de petróleo em águas profundas, o que será um fator decisivo de sucesso para a implantação dos campos gigantes do Pré-Sal.
Impulsionados pela necessidade de encontrar soluções para problemas, no fundo, similares, Portugal e Brasil entenderam, cada um a seu tempo, seus desafios, estruturando competentes elos estratégicos, através de projetos auto-sustentados e buscando o que parecia ser o principal objetivo estratégico destas duas nações: conquistar a auto-suficiência - sejam especiarias ou petróleo - garantindo um lugar de destaque para seus povos no cenário mundial.
O blog Energia e Grandes Navegações discute temas relacionados a questões energéticas - especialmente petróleo - bem como assuntos ligados à história das grandes navegações.
domingo, 29 de agosto de 2010
terça-feira, 10 de agosto de 2010
N2N... é bom se acostumar com o significado...
Para aqueles interessados em fontes de energia para o futuro, é bom ir se acostumando à sigla N2N – Natural gas to Nuclear.
Embora a matriz energética baseada no petróleo ainda vá existir por muitos anos e a despeito de todo o esforço em desenvolver fontes de energia “alternativas”, como solar, eólica, biomassa, etc. As fontes energéticas do futuro terão que continuar a atender aos quatro imperativos descritos por Robert Bryce, em seu livro “Power Hungry”: Alta densidade de potência, alta densidade energética , baixo custo e escala. Além destes impertativos teremos também a clara preferência por energias com baixa emissão de CO2. daí chegamos facilmente à constataçãodas vantagens do gás natural e da energia nuclear.
Gás natural e energia nuclear serão os combustíveis do futuro por disporem de alta densidade de potência associada, relativamente baratos e, principalmente, por serem capazes de suprir as enormes quantidades de energia que precisamos. Ambos produzem baixas taxas de emissão de CO2, quando comparados com o carvão e o óleo, resultando em praticamente poluição zero para o ar. N2N significa usar o gás natural no curto prazo, durante a transição para a energia nuclear a longo prazo. A propósito, se você apóia a redução das emissões da emissão de CO2 e é contra a energia nuclear, me desculpe, mas você está a favor do blackout.
A propósito, creio que o melhor destino que o Brasil pode dar ao dinheiro que manterá em fundo soberano, com o faturamento advindo da gestão de suas reservas de petróleo e gás pela Pré-sal Petróleo SA , é a retomada de um programa de capacitação tecnológica e de construção de usinas nucleares.
Embora a matriz energética baseada no petróleo ainda vá existir por muitos anos e a despeito de todo o esforço em desenvolver fontes de energia “alternativas”, como solar, eólica, biomassa, etc. As fontes energéticas do futuro terão que continuar a atender aos quatro imperativos descritos por Robert Bryce, em seu livro “Power Hungry”: Alta densidade de potência, alta densidade energética , baixo custo e escala. Além destes impertativos teremos também a clara preferência por energias com baixa emissão de CO2. daí chegamos facilmente à constataçãodas vantagens do gás natural e da energia nuclear.
Gás natural e energia nuclear serão os combustíveis do futuro por disporem de alta densidade de potência associada, relativamente baratos e, principalmente, por serem capazes de suprir as enormes quantidades de energia que precisamos. Ambos produzem baixas taxas de emissão de CO2, quando comparados com o carvão e o óleo, resultando em praticamente poluição zero para o ar. N2N significa usar o gás natural no curto prazo, durante a transição para a energia nuclear a longo prazo. A propósito, se você apóia a redução das emissões da emissão de CO2 e é contra a energia nuclear, me desculpe, mas você está a favor do blackout.
A propósito, creio que o melhor destino que o Brasil pode dar ao dinheiro que manterá em fundo soberano, com o faturamento advindo da gestão de suas reservas de petróleo e gás pela Pré-sal Petróleo SA , é a retomada de um programa de capacitação tecnológica e de construção de usinas nucleares.
"Energia e Grandes navegações" ou "Potência e Grandes Navegações"??
Embora o nome deste blog seja “Energia e Grandes navegações”, vale a pena uma pequena lembrança sobre a diferença entre energia e potência. Energia por si só, não produz riqueza. O uso da energia é que sim, produz progresso. A maior parte da energia que utilizamos é empregada para alimentar motores, turbinas e caldeiras para produzir potência. É através da conversão de energia – seja esta de qual tipo for – em movimento que é produzida a verdadeira riqueza. É exatamente isto que os motores fazem, transformar energia em potência. As pessoas em qualquer parte do mundo são sedentas por potência. Elas a precisam para seus carros, telefones celulares, motocicletas, viagens de avião, TVs de plasma, cozinhar, etc. Precisam de potência pois é esta que alimenta aqueles diversos equipamentos e o fazendo criam progresso e felicidade pessoal.
As viagens dos descobrimentos eram - para a sua época - mais arrojadas e arriscadas que as viagens à Lua
Viagens além da costa era um sonho tão antigo quanto a imaginação. Entretanto, até a Era dos Descobrimentos, permaneceu somente como um sonho. Àquela época, a Europa era extremamente ignorante a respeito do mundo em geral. Os exploradores portugueses e espanhóis empreenderam suas viagens em um mundo dominado pela superstição e reverberando uma ânsia de redenção religiosa. Ir para o mar era a maior aventura que alguém poderia experimentar, o equivalente renascenista do astronauta, mas a possibilidade de morte e desastre era muito maior. Hoje em dia, na era do GPS, não existem lugares na Terra não descobertos, mas na Era dos Descobrimentos, mais da metade do mundo continuava inexplorada, não representada em mapas e mal compreendida pelos europeus. Homens do mar acreditavam que monstros marinhos se escondiam nas profundezas salgadas, esperando para devorá-los. E que, quando cruzassem o equador, o oceano ferveria e eles morreriam escaldados.
domingo, 8 de agosto de 2010
carros elétricos...
Os carros totalmente elétricos há muito tempo têm sido sempre considerados como a “próxima grande novidade”.
Não há dúvidas que veículos elétricos possuem vários pontos positivos e vantajosos: Baixo custo para abastecimento, não polui o ar no ponto de utilização do veículo e operação silenciosa. Todavia, a despeito de todas estas vantagens, carros completamente elétricos continuam a ter como desafio resolver as desvantagens que são conhecidas há quase um século: alcance ( distância) limitado; baixa velocidade de reabastecimento; poucos pontos para recarga; altos custos do veículo. Os mesmos problemas desde a época de Thomas Edison, basicamente resumidos a uma questão: BATERIA.
Por mais de um século, vários inventores buscaram criar uma bateria que fosse adequada como fonte primária de energia para os automóveis. De uma maneira geral eles não tiveram sucesso. Desde Thomas Edison, os engenheiros e inventores obtiveram sucessos retumbantes, como por exemplo, ao colocar o homem na Lua, construir usinas nucleares e criar a Internet. Todavia, mesmo com o enorme progresso da tecnologia, as baterias continuam a sofrer basicamente as mesmas restrições que atormentavam Thomas Edison. Evidente que as baterias melhoraram muito, mas ainda não o suficiente para concorrer com outros combustíveis empregados nos meios de transportes.
O problema fundamental é referente ao princípio da densidade de energia. Uma boa forma de comparar esta dimensão é através da comparação entre watt x hour/ kg ( a quantidade de energia armazenada em uma bateria de um kilo). Os fabricantes de baterias têm obtido progressos notáveis em termos de densidade de energia. As modernas baterias de íon de Lítio apresentam densidades energéticas mais de 4 vezes superiores à suas antecessoras, com elementos de chumbo-ácido. Mas continuam sem sequer chegar perto da densidade energética existente em um kilo de gasolina, que é capaz de conter cerca de 80 vezes mais energia que uma bateria de íon de Lítio.
A título de exemplo do peso de bateria necessária para um veículo elétrico, temos o caso do Tesla Roadster, o carro elétrico mais famoso, que pesa cerca de 1300 kg, dos quais 500 kg são de bateria.
Em termos de carros com propulsão elétrica, hoje temos como casos de comprovado sucesso, os carros híbridos, como o Toyota Prius e o Honda Insight. Tais veículos, certamente vieram para ficar e ocuparão crescente fatia do mercado automobilístico – bem diferente do que se espera dos veículos puramente elétricos.
Embora o tema carros elétricos pareça um assunto moderno e até certo ponto “novidade”, chega a ser engraçado constatarmos que há cerca de um século, o The New York Times noticiava em 1911, que os carros elétricos seriam a solução ideal, em função de se tratar de um veículo limpo e silencioso e muito mais econômico.
A chegada do Prius no final da década de 90, marcou indubitavelmente o início da eletrificação da frota automobilística. Não se trata da eletrificação integral ( carro 100% elétrico) que parece ser o anseio de boa parte dos engenheiros, mas se trata de um marco importante em um processo que ainda levará muitas décadas para se firmar como uma tecnologia de uso pleno.
Uma das alternativas considerada seriamente nesta área é o uso de carros híbridos associados a guard-rails ou trilhos eletrificados para viagens de longa distância, que permitiriam o uso de automóveis elétricos, sem a necessidade de paradas para reabastecimento, associados a viagens em altas velocidades e pequenas distâncias entre carros.
Não há dúvidas que veículos elétricos possuem vários pontos positivos e vantajosos: Baixo custo para abastecimento, não polui o ar no ponto de utilização do veículo e operação silenciosa. Todavia, a despeito de todas estas vantagens, carros completamente elétricos continuam a ter como desafio resolver as desvantagens que são conhecidas há quase um século: alcance ( distância) limitado; baixa velocidade de reabastecimento; poucos pontos para recarga; altos custos do veículo. Os mesmos problemas desde a época de Thomas Edison, basicamente resumidos a uma questão: BATERIA.
Por mais de um século, vários inventores buscaram criar uma bateria que fosse adequada como fonte primária de energia para os automóveis. De uma maneira geral eles não tiveram sucesso. Desde Thomas Edison, os engenheiros e inventores obtiveram sucessos retumbantes, como por exemplo, ao colocar o homem na Lua, construir usinas nucleares e criar a Internet. Todavia, mesmo com o enorme progresso da tecnologia, as baterias continuam a sofrer basicamente as mesmas restrições que atormentavam Thomas Edison. Evidente que as baterias melhoraram muito, mas ainda não o suficiente para concorrer com outros combustíveis empregados nos meios de transportes.
O problema fundamental é referente ao princípio da densidade de energia. Uma boa forma de comparar esta dimensão é através da comparação entre watt x hour/ kg ( a quantidade de energia armazenada em uma bateria de um kilo). Os fabricantes de baterias têm obtido progressos notáveis em termos de densidade de energia. As modernas baterias de íon de Lítio apresentam densidades energéticas mais de 4 vezes superiores à suas antecessoras, com elementos de chumbo-ácido. Mas continuam sem sequer chegar perto da densidade energética existente em um kilo de gasolina, que é capaz de conter cerca de 80 vezes mais energia que uma bateria de íon de Lítio.
A título de exemplo do peso de bateria necessária para um veículo elétrico, temos o caso do Tesla Roadster, o carro elétrico mais famoso, que pesa cerca de 1300 kg, dos quais 500 kg são de bateria.
Em termos de carros com propulsão elétrica, hoje temos como casos de comprovado sucesso, os carros híbridos, como o Toyota Prius e o Honda Insight. Tais veículos, certamente vieram para ficar e ocuparão crescente fatia do mercado automobilístico – bem diferente do que se espera dos veículos puramente elétricos.
Embora o tema carros elétricos pareça um assunto moderno e até certo ponto “novidade”, chega a ser engraçado constatarmos que há cerca de um século, o The New York Times noticiava em 1911, que os carros elétricos seriam a solução ideal, em função de se tratar de um veículo limpo e silencioso e muito mais econômico.
A chegada do Prius no final da década de 90, marcou indubitavelmente o início da eletrificação da frota automobilística. Não se trata da eletrificação integral ( carro 100% elétrico) que parece ser o anseio de boa parte dos engenheiros, mas se trata de um marco importante em um processo que ainda levará muitas décadas para se firmar como uma tecnologia de uso pleno.
Uma das alternativas considerada seriamente nesta área é o uso de carros híbridos associados a guard-rails ou trilhos eletrificados para viagens de longa distância, que permitiriam o uso de automóveis elétricos, sem a necessidade de paradas para reabastecimento, associados a viagens em altas velocidades e pequenas distâncias entre carros.
sábado, 7 de agosto de 2010
O re-design a serviço do projeto português de globalização
As inúmeras inovações portuguesas nos séculos XV e XVI sustentaram a criação do primeiro império global: Caravelas e naus; mobilidade e poder de fogo naval; novos conceitos de geoestratégia e novas ferramentas de marear juntaram-se para dar corpo a um sistema global - não enclausurado num só oceano.
Tais instrumentos não haviam sido desenvolvidos pelos portugueses, mas é sabido que artesãos, cartógrafos e navegadores lusitanos muito contribuíram para seu desenvolvimento e utilidade prática. Este tipo de desenvolvimento de artefatos constitui aquilo que, em termos modernos, é conhecido como inovação incremental ou re-design. As Descobertas poderiam ter sido possíveis cem anos mais cedo do que realmente principiaram, pois estavam disponíveis os principais inventos na arte de navegar. Todavia, faltava algo - o tal re-design a serviço de um intento estratégico.
Presidente Lula assina a criação da companhia que irá gerir as reservas do Pré-Sal
O presidente Lula aprovou , em 02 de agosto, a criação da Pré-Sal Petróleo SA , a estatal criada para gerenciar a exploração do Pré-Sal brasileiro. O projeto de lei havia sido aprovado no Senado Federal em 7 de julho último e com a aprovação do presidente, a empresa passa oficialmente a existir.
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